quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tempo para esvaziar

Em relação ao post anterior, Janelas de ontem e hoje, é incrível como hoje temos informações à disposição, e não temos tempo. A corrente sempre nos leva para encher, encher, encher, e cada vez menos temos algum tempo para esvaziar.
Pensar nisso me trouxe um bem-estar em relação a este blog, que passei a ver sob essa nova perspectiva: um lugar para esvaziar um pouco. Um lugar sem tantos verbos no imperativo (compre, ganhe, leve, pague), e adjetivos menos falsos.
É profunda a sensação de vazio ao ver como transformamos mais e mais as coisas em produtos. Informação, lazer, status. Cada vez menos atenção para o que há em mim, e mais para o que estou produzindo, e consumindo dos produtos alheios.
Nas épocas de inflação, estocávamos comida em casa. Agora, nem isso. Consumimos e descartamos na mesma velocidade. Quem dera deixar isso um pouco de lado, e aproveitar a brisa de uma janela aberta.

GUSTAVO.

Janelas de ontem e hoje





Os velhinhos de ontemcostumavam, sobretudo nos fins de tarde, abrir as janelasdas casas e ficar ali, às vezes com os cotovelos apoiados em almofadas, esperando que algo acontecesse: a aproximação de um conhecido, uma correria de crianças, um cumprimento, uma conversa, o pôr do sol, a aparição da lua.
Eles se espantariam com as crianças e os jovens de hoje, fechados nos quartos, que ligam o computador, abrem asjanelas da internet e navegam por horas por um mundo de imagens, palavras e formas quase infinitas.
O homem continua sendo um bicho muito curioso. O mundo segue intrigando-o.
O que ninguém sabe é se o mundo está cada vez maior ou menor. O que imagino é que, de suas janelas, os velhinhos viam muito pouca coisa, mas pensavam muito sobre cada uma delas. Tinham tempo para recolher as informações mínimas da vida e matutar sobre elas. Já quem fica nasjanelas da internet vê coisas demais, e passa de uma para outra quase sem se inteirar plenamente do que está vendo. Mudou o tempo interior do homem, mudou seu jeito de olhar, Mudaram as janelas para o mundo e nós seguimos olhando, olhando, olhando sem parar, sempre com aquela sensação de que não podemos parar de olhar, seja o cachorro de verdade que se coça na esquina da padaria, seja o passeio virtual por Marte, na tela colorida.

Cristiano Calógeras

domingo, 15 de novembro de 2009

Dedicação





























Este poema é dedicado
aos que em grande dedicação
e coragem
assumiram a arte em si
e admitiram entrar em contato
com sua loucura.

Abre-se a janela
e voa-se com o vento.
GUSTAVO.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

















Nesse mundo
há outro mundo
onde as coisas
são mais simples.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Onde vivemos

Homem pirata

A História é dividida tradicionalmente em Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Estavam querendo chamar o século XX de 'Idade da Tecnologia'. Se assim fosse, hoje podemos estar vivendo a 'Idade da Pirataria'.
Deus fez o homem, e o homem fez o mp3. Depois disso, nada foi o mesmo.
A pirataria tecnológica começou com a música, álbuns inteiros na internet, e depois filmes, programas de televisão, livros e por aí a fora. Além dos tradicionais produtos "made in taiwan", temos agora "made in china". Temos antenas de tv que captam sinais da televisão fechada (um sucesso!). Temos bolsas pirateadas, sapatos, roupas, remédios, e até mesmo camisinha (itens falsificados, o que dá no mesmo que pirataria).
Acho que a pirataria se estendeu mais, de outras formas. Por exemplo: quando começou a internet, os jornais limitavam o acesso ao seu conteúdo online aos assinantes. Como as pessoas passaram a ler mais no computador do que fora dele (e começaram a colocar revistas na rede), hoje todos os jornais colocam seu conteúdo online, e não apenas isso, competem em conteúdo online: além de notícias atualizadas minuto a minuto, dezenas de blogs dos seus comentaristas, e tudo atualizado por feeds (resumos da notícia que o jornal envia a quem quiser, com a possibilidade de acessar o site para ler a notícia completa). Tudo isso pra quê? Ter mais acessos no site para valorizar os seus anúncios online.
Agora, o ser humano decidiu piratear a si mesmo, fazendo robôs-humanos. A moda já vinha do sexo: na internet, sexo virtual, no mundo real, pênis mecânicos, vaginas de silicone e mesmo bonecos inteiros feitos sob medida para o deleite sexual dos usuários pelo preço de um carro popular. Nos cinemas, o filme 'Os Substitutos' propõe uma interessante discussão sobre o tema. Até que ponto toda essa tecnologia não é uma nova forma de fuga de nossos sentimentos e atitudes?

GUSTAVO.

Sobre a robo:

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

in-esperado
















quem diria, quem diria
saí caminhando sozinho
e encontrei na esquina
um pouco de poesia.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A origem do mundo

A guerra civil da Espanha tinha terminado fazia poucos anos, e a cruz e a espada reinavam sobre as ruínas da República. Um dos vencidos, um operário anarquista, recém-saído da cadeia, procurava trabalho. Virava céu e terra, em vão. Não havia trabalho para um comuna. Todo mundo fechava a cara, sacudia os ombros ou virava as costas. Não se entendia com ninguém, ninguém o escutava. O vinho era o único amigo que sobrava. Pelas noites, na frente dos pratos vazios, suportava sem dizer nada as queixas de sua esposa beata, mulher de missa diária, enquanto o filho, um menino pequeno, recitava o catecismo para ele ouvir.
Muito tempo depois, Josep Verdura, o filho daquele operário maldito, me contou. Contou em Barcelona, quando cheguei ao exílio. Contou: ele era um menino desesperado que queria salvar o pai da condenação eterna e aquele ateu, aquele teimoso, não entendia.
- Mas papai - disse Josep, chorando -, se Deus não existe, quem fez o mundo?
- Bobo - disse o operário, cabisbaixo, quase que segredando. - Bobo. Quem fez o mundo fomos nós, os pedreiros.

Eduardo Galeano, em O livro dos abraços.

quanto tempo?

fico ali
parado perdido
levado por um som,
imagem ou ação
até retomar
a direção.

sábado, 17 de outubro de 2009

ação
























A guerra em mim.
Desejo de destruir.
Fome de miséria,
de terra arrasada.
Tudo de destrutivo
que habita o noticiário
e o mundo
habita também
o coração.


"a guerra, crianças,
está a um tiro de distância"

Gimme Shelter, de Mick jagger e Keith Richards.


"somos ilhas uns para os outros
construindo pontes esperançosas
em um mar agitado"

Entre Nous, de Neil Peart

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

















Quando perguntaram a Joshu o que era o Tao (ou a verdade do zen) ele respondeu: "A vossa vida cotidiana é o tao". Em outras palavras, uma calma autoconfiante. Esta é a verdade que quero exprimir quando afirmo que o zen é eminentemente prático. Ele apela diretamente à vida, não fazendo sequer referência à alma, ou a deus, ou a coisa alguma que interfira ou perturbe o ordinário curso vital. A idéia do zen é de captar a vida assim como ela é. Não há nada de misterioso e extraordinário a respeito do zen. Ergo a minha mão, ou apanho um livro do outro lado da mesa, ou ouço os garotos jogando bola na rua, ou vejo as nuvens além serem dispersadas sobre a floresta - em tudo isso estou praticando o zen. Estou vivendo o zen. Nenhuma discussão verbal é necessária, nem qualquer explicação. Não sei porque, e também não há necessidade de explicação, mas quando o sol surge, todo o mundo dança de alegria, e o coração de todos enche-se de júbilo. Se o zen é depois de tudo concebível, é aqui que deve ser apreendido.

Daisetz Teitaro Suzuki, em Introdução ao zen-budismo

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

segunda-feira teia

bolhas de sabão
que nunca consigo pegar
e nunca explodem.
como a aranha trabalhando dia e noite
repito o trajeto várias vezes
mas acabo preso em minha teia.
um degrau faltando termina a escada
sem força para inventar o suporte
do passo criativo na caminhada.
depois de muito suor
melhor mesmo é relaxar
e deixar as moscas pousarem em mim.

GUSTAVO.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fita amarela
























Quero que o sol não invada o meu caixão
Para minha pobre alma não morrer de insolação

Fico contente, consolado de saber
Que as morenas tão formosas
A terra um dia há de comer

Não tenho herdeiros, não possui um só vintém
Eu vivi devendo a todos, mas não paguei ninguém

Meus inimigos que hoje falam mal de mim
Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim

Quando eu morrer, não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela, gravada com o nome dela
Não quero flores, nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta, violão e cavaquinho

Noel Rosa, Fita amarela (composta em 1932)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Foto


Uma foto revela mais que uma paisagem: revela um olhar.
Pode ser um olhar de curiosidade, deleite, ou de satisfação com o que se vê.
Esta foto de Laura Backes tirada no interior da Croácia atiça minha curiosidade. De onde são essas escadarias? Quem vive ou frequenta esse lugar? Aonde essa passagem leva?
Não há nada de espetacular: há um cotidiano.
Um cotidiano qualquer, que como quase qualquer coisa, pode ser capturada artisticamente.
Algo nada espetacula que se transforma em algo lindo.

Laura Backes é atriz e dançarina. Ah, fotógrafa também.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009



tempo desgarrado
ventos desgraçados
sopram luas
varrem ruas.
caldos tortos
braços retos
olhos frágeis
coração partido.
amargo é o som
da devastação.
nuvens fracas
ecos de aspectos
passados.

GUSTAVO.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Tim Maia




Assisti nesse findi o dvd Tim Maia in concert, show ao vivo do síndico cantando muitos sucessos. Fiquei impressionado vendo Tim ao vivo (mais tempo do que apenas num clipe) pela quantidade de energia daquele homem. Não a energia dos "aditivos" (que nunca saberemos quanto ele aguentava), mas a energia criativa dele.
Apenas ouvindo sua voz, chama a atenção seu timbre e afinação, coisa que toma por inteiro muitos cantores. Não para o Tim. Parece que cantar era pouco pra ele. Não apenas cantava com sua voz marcante, como estava, ao mesmo tempo, regendo Vitória Régia (sua banda), se comunicando com o público, comentando a música, reclamando do volume dos instrumentos, tudo num clima de ensaio/brincadeira num nível de alto profissionalismo (quando ele subia no palco).
Vale a pena para quem quiser conferir a fera se divertindo como criança. Valeu a dica do Edu!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Através de um espelho


Assisti finalmente um filme do tão comentado Bergman, Através de um espelho (1961). Tudo tem uma primeira vez. Me apaixonei pela fotografia, e não achei tão pesado como comentam. Me explico melhor: achei forte sim, pela veracidade da trama, mas senti que ele apresenta possibilidades, pincela por possibilidades, mesmo que a realidade se mantenha dura, sintuosa em vários momentos. Mesmo assim, o arrepio provocado pela veracidade, cruel como é retratada pelo diretor, fascina pela maestria de sua captura.
O tema principal é a loucura e a falta de conexão com Deus. A loucura é mostrada no filme com seu aspecto terrível, que desestrutura a pessoa e a família, e o transtorno de perder contato com a realidade. Ao mesmo tempo, é preciso um pouco de loucura para conceber com tanta habilidade um filme complexo como esse, ou para atuar tão bem como atuam os atores. Na verdade, é preciso contato com a loucura para qualquer forma de arte, não?
Da mesma maneira, quando pai e filho conversam na cena final sobre o vazio da existência, eles entendem um pouco a loucura da vida, já que "tudo pode acontecer". Vivemos num mundo onde tudo é capaz de acontecer, e estamos todos sentenciados à morte, mais cedo ou mais tarde, e nesse vazio, nesse mesmo vazio da existência, encontramos amor. Nesse mundo encontramos amor.
Quem sabe a loucura não está para nós, assim como estamos para Deus?

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

vai pagar quanto?


dinheiro
não compra felicidade
mas suborna o prazer.
dinheiro
disfarça a feiúra
mas não aumenta o pau.
dinheiro
constrange a pobreza
humilha a fome
mas não compra alma.
dinheiro
não tem cpf
nem comprova residência
mas tem endereço certo.
dinheiro
suborna e mata
mas não confere vida.
dinheiro
te leva aonde quiser
mas não te traz felicidade.

GUSTAVO.


Dedicado aos nascimentos artísticos!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Escolhendo (e escolhendo, ainda escolhendo...)

Ando pensando nestes últimos dias (costumo pensar demais sempre, mas dessa vez estava pensando em alguma coisa prática, pra variar) em alguma coisa pra fazer. Fazer mesmo, não fazer-pensando. E ando me dando conta, na medida em que penso, como às vezes as escolhas não são tão importantes assim, o importante mesmo é a intenção dessa escolha.
Não a intenção que antecede a escolha, mas que direciona ela. É a direção que você toma, independente de qual pé dá o primeiro passo. Isso soa meio "dã", mas tira um pouco do peso de quem tem medo de escolher... ou preguiça mesmo. Afinal, vale mesmo é contatar com nossa essência, e a partir daí.... é zen.

Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

de Florbela Espanca, em Trocando olhares (vol. 1 da L&PM Pocket)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ah, Dindi...

Música para se ouvir, ou se ler, lenta... no balanço do piano do mestre...

Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão, ah, eu não sei, não sei
E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também
Ai, Dindí,
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindí, tudo, Dindí, lindo, Dindí
Ai, Dindí,
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindí
Olha, Dindí, fica, DindíE as águas desse rio
Onde vão, eu não sei
A minha vida inteira, esperei, esperei por você, Dindí
Que é a coisa mais linda que existe
É você não existe, Dindí

Dindi, de Tom Jobim.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Perdão

me perdoe por toda a falta
as vezes em excesso.
me perdoe o amor sem forma
as vezes pontiagudo.
me perdoe o grito preso
que teria abafado um falso desprezo.
me perdoe todo apoio
que não consegui te dar.
me perdoe por toda a paixão
que deixei pra amanhã.
me perdoe o sorriso morto
e a lágrima que secou.

GUSTAVO.

Dedicado à Mel.
ps: eu te amo.

domingo, 19 de julho de 2009

Uma impressão



Impressão: nascer do sol, por Claude Monet.


Para o impressionismo, captar as coisas exatamente como elas são não importa. O que importa é captar o sentimento que ela desperta, a impressão que aquilo lhe dá. Na época, academicamente errado e tecnicamente imperfeito. Quem sabe um busca da essência dos momentos?

segunda-feira, 13 de julho de 2009



É incrível como algumas frases dizem tudo.

"Vou te contar,
os olhos já não podem ver
coisas que só um coração pode entender.
Fundamental é mesmo o calor,
é impossível ser feliz sozinho.
O resto é mar..."
Wave, de Tom Jobim.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Dois poemas

Poesia é uma sensibilidade do mundo, um olhar sobre a vida, às vezes inusitado. Do talentoso amigo Guto Leite, dois poemas publicados no livro Poemas Lançados Fora.

A rigor

A fortuna é a cartola do diabo
Que deus, quando vai à festa,
Gosta de tomar
Emprestado.


Só porque era conselho

Aquela luz ao pé da cama,
vestida de um silêncio escuro,
dizia que não se ama
mais assim, de um jeito largo.
"Muda, muda, minha filha,
larga essa vida insana!"
Mas, grande não se entorta mais
pra lado que a raiz não manda.
Foram passando meses,
passando, passando anos,
até que num fim de noite,
de frente para o desdém,
a luz foi ficando grande,
grande, grande, Grande,
e era um trem.

domingo, 5 de julho de 2009

INSIGHT

quando
estamos mexidos,
algo em nós
foi mexido:
é preciso tempo
e paciência
para que as coisas
se reacomodem
em seu
lugar.

GUSTAVO.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Automat


Edward Hopper, Automat.



"A solidão é o tema dominante. As figuras de Hopper parecem estar longe de casa. Estão sentadas ou em pé, sozinhas, olhando para uma carta na beira de uma cama de hotel ou bebendo num bar; com o olhar perdido na janela de um trem em movimento ou lendo um livro num saguão de hotel. Suas expressões são vulneráveis e introspectivas. Talvez tenham acabado de deixar alguém ou talvez tenham sido abandonadas. Estão à procura de trabalho, sexo ou companhia, à deriva em locais transitórios."


Alain de Botton, em A arte de viajar.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

o vento alisa meus cabelos

O vento alisa meus cabelos
como se fosse mão materna:
abrindo a porta das lembranças
o pensamento de mim sai.

São outras vozes as que levo,
é de outros lábios o meu cantar:
a minha gruta de lembranças
tem uma estranha claridade!

Frutos de terras estrangeiras,
ondas azuis de estranho mar,
amores de outros homens, penas
que eu não me atrevo a relembrar.

Vento, o vento que me penteia
como se fosse mão materna!

Perde-se a verdade na noite:
não noite nem verdade!

Deitado em meio do caminho
deverão pisar-me para andar.

Passam por mim seus corações
bêbados de vinho e de sonhar.

Sou uma ponte imóvel entre
o coração e a eternidade.

Se eu morresse de repente
não deixaria de cantar!

Pablo Neruda, em Crepusculário.
Mais sobre o poeta.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

a vida que deus não quis

a vida que deus não quis -
caminhos tortos
linhas de digitais
naturais.
a vida tortuosa
não é virgem
é vertigem
na queda do penhasco
no pôr-do-sol,
na ondulação d'água,
na fermentação do vinho,
no grito da vida
recém-nascida.

GUSTAVO.




Mulher com papagaio,
Dedicado a Baco, Vinicius velho saravá, aos loucos, a Nietzsche, aos apaixonados, Rumi e sua gangue, a Osho e sua cunhada...

quarta-feira, 24 de junho de 2009



Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.



Jalaluddin Rumi

terça-feira, 23 de junho de 2009



As palavras são como um dedo apontando para a lua: cuida de saber olhar para a lua, não se preocupe com o dedo que a aponta.


Dois koans:


Um jarro, ao se espatifar no chão, ainda é um jarro inteiro desenhado no ar.

O elefante estava dançando sobre a pulga, porque a pulga estava em cima do elefante.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

cegueira

defina
o que não se vê
mas se vê
no clichê
démodé
corrosiva
repetição
agonia
cega
tiros
no escuro
corrosiva
repetição
teatro
absurdo
com único
espectador.

GUSTAVO

terça-feira, 16 de junho de 2009

Chega de saudade

Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai

Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca

Vinicius de Moraes

domingo, 14 de junho de 2009

Cecília Meireles, Cânticos

VI

Tu tens medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Jan Vermeer, Milkmaid

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Koan

Da tradição zen, se a mente é compulsiva, então relaxar a mente (ou relaxar na mente) leva a um estado de clareza. O caminho apontado para alcançar esse estado de clareza é a meditação, comumente praticada sobre um zafu - uma almofada redonda.
Dentro dessa tradição, o koan aparece como um recurso aos alunos. É uma afirmação, narração ou diálogo que busca freiar a razão. Esse pequeno koan poético roubei de um site agora adicionado aos links, que se chama KOANS.


Sobre o zafu, ninguém, sob o zafu, nenhum chão.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

o vazio não vaza
é sólido enraizado.
bruto é o resto
de realidade.
em caixas quebradas,
restos de sonhos,
lembranças de tormentas.
o olho d'água que brilha,
só.

GUSTAVO

terça-feira, 9 de junho de 2009

Parabéns atrasado!

"Feliz Aniversário, Darwin!

Charles Darwin completaria hoje 200 anos, não fosse pela seleção natural. Ela, afinal, é a maior responsável pelo barroco processo de desenvolvimento que leva os organismos complexos inexoravelmente à morte - conceito que não se aplica muito a bactérias e arqueobactérias, seres que se reproduzem gerando clones de si próprios, partilham identidades com a transferência horizontal de genes e podem ficar milênios em vida suspensa (no gelo, por exemplo).
A contribuição de Darwin para a ciência e para a história, porém, continua viva, e muito viva, exatamente com a ideia de seleção natural. Só por isso ele já merece os parabéns. Feliz Aniversário, Darwin."


Por Marcelo Leite, em 12/02/09, aqui.

domingo, 7 de junho de 2009

segue o teu destino,

segue o teu destino,
rega as tuas plantas,
ama as tuas rosas.
o resto é a sombra
de árvores alheias.

a realidade
é sempre mais ou menos
do que nós queremos.
só nós somos sempre
iguais a nós-próprios.

suave é viver só
grande e nobre é sempre
viver simplesmente.
deixa a dor nas aras
como ex-voto aos deuses.

vê de longe a vida
nunca a interrogues.
ela nada pode dizer-te. a resposta
está além dos deuses.

mas serenamente
imita o olimpo
no teu coração.
os deuses são deuses
porque não se pensam.

Fernando Pessoa (como Ricaro Reis), 01/07/1916.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

vi uma poesia no dia-a-dia

todo dia
fantasia
sombras
poesia

quantas ideias boas perdidas nos ônibus?
fantasmas.

GUSTAVO

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Brasil, meu Brasil brasileiro

"O trem corre no trilho
Da Central do Brasil...
Incluindo paixão antiga,
E aquele beijo quente
Que eu ganhei da sua amiga.
E o que é que deu?
Funk na cabeça.

Alô, Alô tia Léia
Se tiver ventando muito
Não venha de helicóptero

Alô, Alô W Brasil..."


W/Brasil, de Jorge Ben Jor

Desnudos

(Adioses. Ausencia. Regreso)

Nacía, gris, la luna, y Beethoven lloraba,
bajo la mano blanca, en el piano de ella...
En la estancia sin luz, ella, mientras tocaba,
morena de la luna, era tres veces bella.

Teníamos los dos desangradas las flores
del corazón, y acaso llorábamos sin vernos...
Cada nota encendía una herida de amores...
-El dulce piano intentaba comprendernos.-

Por el balcón abierto a brumas estrelladas,
venía un viento triste de mundos invisibles...
Ella me preguntaba de cosas ignoradas
y yo le respondía de cosas imposibles...

Juan Ramón Jiménez

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Henry Matisse - Music

Estréia!

todas as ideias guardadas
no saco de ideias guardadas
com medo de serem roubadas
me deixam de saco cheio

GUSTAVO