quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tempo para esvaziar

Em relação ao post anterior, Janelas de ontem e hoje, é incrível como hoje temos informações à disposição, e não temos tempo. A corrente sempre nos leva para encher, encher, encher, e cada vez menos temos algum tempo para esvaziar.
Pensar nisso me trouxe um bem-estar em relação a este blog, que passei a ver sob essa nova perspectiva: um lugar para esvaziar um pouco. Um lugar sem tantos verbos no imperativo (compre, ganhe, leve, pague), e adjetivos menos falsos.
É profunda a sensação de vazio ao ver como transformamos mais e mais as coisas em produtos. Informação, lazer, status. Cada vez menos atenção para o que há em mim, e mais para o que estou produzindo, e consumindo dos produtos alheios.
Nas épocas de inflação, estocávamos comida em casa. Agora, nem isso. Consumimos e descartamos na mesma velocidade. Quem dera deixar isso um pouco de lado, e aproveitar a brisa de uma janela aberta.

GUSTAVO.

Janelas de ontem e hoje





Os velhinhos de ontemcostumavam, sobretudo nos fins de tarde, abrir as janelasdas casas e ficar ali, às vezes com os cotovelos apoiados em almofadas, esperando que algo acontecesse: a aproximação de um conhecido, uma correria de crianças, um cumprimento, uma conversa, o pôr do sol, a aparição da lua.
Eles se espantariam com as crianças e os jovens de hoje, fechados nos quartos, que ligam o computador, abrem asjanelas da internet e navegam por horas por um mundo de imagens, palavras e formas quase infinitas.
O homem continua sendo um bicho muito curioso. O mundo segue intrigando-o.
O que ninguém sabe é se o mundo está cada vez maior ou menor. O que imagino é que, de suas janelas, os velhinhos viam muito pouca coisa, mas pensavam muito sobre cada uma delas. Tinham tempo para recolher as informações mínimas da vida e matutar sobre elas. Já quem fica nasjanelas da internet vê coisas demais, e passa de uma para outra quase sem se inteirar plenamente do que está vendo. Mudou o tempo interior do homem, mudou seu jeito de olhar, Mudaram as janelas para o mundo e nós seguimos olhando, olhando, olhando sem parar, sempre com aquela sensação de que não podemos parar de olhar, seja o cachorro de verdade que se coça na esquina da padaria, seja o passeio virtual por Marte, na tela colorida.

Cristiano Calógeras