quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Através de um espelho


Assisti finalmente um filme do tão comentado Bergman, Através de um espelho (1961). Tudo tem uma primeira vez. Me apaixonei pela fotografia, e não achei tão pesado como comentam. Me explico melhor: achei forte sim, pela veracidade da trama, mas senti que ele apresenta possibilidades, pincela por possibilidades, mesmo que a realidade se mantenha dura, sintuosa em vários momentos. Mesmo assim, o arrepio provocado pela veracidade, cruel como é retratada pelo diretor, fascina pela maestria de sua captura.
O tema principal é a loucura e a falta de conexão com Deus. A loucura é mostrada no filme com seu aspecto terrível, que desestrutura a pessoa e a família, e o transtorno de perder contato com a realidade. Ao mesmo tempo, é preciso um pouco de loucura para conceber com tanta habilidade um filme complexo como esse, ou para atuar tão bem como atuam os atores. Na verdade, é preciso contato com a loucura para qualquer forma de arte, não?
Da mesma maneira, quando pai e filho conversam na cena final sobre o vazio da existência, eles entendem um pouco a loucura da vida, já que "tudo pode acontecer". Vivemos num mundo onde tudo é capaz de acontecer, e estamos todos sentenciados à morte, mais cedo ou mais tarde, e nesse vazio, nesse mesmo vazio da existência, encontramos amor. Nesse mundo encontramos amor.
Quem sabe a loucura não está para nós, assim como estamos para Deus?

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