![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmvAUIR9QL0KaOstFcxlWLzlazD30l4H-3jYBX9WQq0g1DoDjvuRYnVk9NziW9QQb3zuVMSLiPGUPeXAtiOni6nOK9_UmVq4002UeV_ls-qs3Li8-QMc5qIiBCQfVx8MbMJIu5Y6tJ8AJa/s400/Alarcao-BurocraciaLowRes.jpg)
Sixto Martínez fez o serviço militar num quartel de Sevilha.
No meio do pátio desse quartel havia um banquinho. Junto ao banquinho, um soldado montava guarda. Ninguém sabia por que se montava guarda para o banquinho. A guarda era feita porque sim, noite e dia, todas as noites, todos os dias, e de geração em geração os oficiais transmitiam a ordem e os soldados obedeciam. Ninguém nunca questionou, ninguém nunca perguntou. Assim era feito, e sempre tinha sido feito.
E assim continuou sendo feito até que alguém, não sei qual general ou coronel, quis conhecer a ordem original. Foi preciso revirar os arquivos a fundo. E depois de muito cavoucar, soube-se. Fazia trinta e um anos, dois meses e quatro dias, que um oficial tinha mandado montar guarda junto ao banquinho, que fora recém-pintado, para que ninguém sentasse na tinta fresca.
p.62 O livro dos abraços, de Eduardo Galeano