terça-feira, 8 de junho de 2010

Bispo é como um pastor. Aquele mesmo, das ovelhas. Seu dever é conduzir o rebanho de fiéis a ele confiados.
Em 1554 o bispo Pero Sardinha foi comido pelos índios ao naufragar no litoral brasileiro. A consagrada metáfora católica de "comer o corpo do repersentante de Deus na terra" foi concretizada com êxito. Comer uma pessoa significava, para os índios, admiração, e a devoração uma tentativa de incorporar as qualidades do outro para si.
Veja bem, por outro lado, ser comido às vezes não é tão virtuoso assim. Um rebanho que não deseja ser, estar ou permanecer colônia, pode acabar por comer seu bispo, quer dizer, pastor. Oswald de Andrade tem mais a nos dizer sobre isso no Manifesto Antropofágico:

"O dia em que os aimorés comeram o bispo Sardinha deve constituir, para nós, a grande data. Data americana, está claro. Nós somos americanos; filhos do continente América; carne e inteligência a serviço da alma da gleba. O fim que reservamos a Pero Vaz de Sardinha tem uma dupla interpretação: era, a um tempo, a admiração nossa por ele (representante de um povo que se esforçara por derrubar aquele presente utópico, que foi dado ao homem ao nascer, e que se chama Felicidade) e a nossa vingança. Porque, que eles viessem aqui nos visitar, está bem, vá lá; mas que eles, hóspedes, nos quisessem impingir seus deuses, seus hábitos, sua língua... isso não! Devoramo-lo. Não tínhamos, de resto, nada mais a fazer."

Um comentário:

Marilia disse...

Gu!
Já viste o documentário lutas.doc? É muito bom, tenta ver porque tem a ver com este post!
Manda notícias!
bjs e muitas saudades,
Marília