Goran Bregovic se apresentou ontem no Teatro do Bourbon Country. Sua "banda", composta de cordas, metais, duas cantoras búlgaras, coro masculino e um percussionista, faz música de um estilo de comunicação universal. Desde o início o show foi emocionante, causando aplausos efusivos e gritos da platéia, até o momento em que, durante uma música muito boa para dançar, um pequeno grupo da platéia baixa levantou de suas poltronas. Isso fez com que mais gente se levantasse, o que fez com que pessoas saíssem correndo pelos corredores para dançar perto do palco, transformando o encontro em uma festa. Dançamos. Dançamos como se não fossemos vistos, como se não estivéssemos num teatro e sim numa festa popular. Dançamos como num encontro sagrado.
Uma catarse que eu nunca tinha presenciado num teatro, muito pelo contrário, um espaço que intimida pela racionalidade da disposição e a limitação das cadeiras. Ontem, para ficar na memória dos que estavam lá, todas as barreiras físicas e sociais cederam à vontade de ser humano e comungar alegria.
Dançamos todos juntos, desconhecidos, de diferentes idades, diferentes idéias, livres por um instante eterno. A festa que se instalou só não agradou a alguns e aos seguranças. Não adiantou pedir que sentássemos: a alegria havia contagiado a todos de maneira irremediável e obscena. Dançamos com liberdade.
Goran comungou contente, brindou a nossa saúde e comentou, no meio da alegria de uma música inesquecível: "se você não pode enlouquecer, você não é normal". Rimos e regozijamos: todos éramos loucos.