segunda-feira, 29 de junho de 2009

o vento alisa meus cabelos

O vento alisa meus cabelos
como se fosse mão materna:
abrindo a porta das lembranças
o pensamento de mim sai.

São outras vozes as que levo,
é de outros lábios o meu cantar:
a minha gruta de lembranças
tem uma estranha claridade!

Frutos de terras estrangeiras,
ondas azuis de estranho mar,
amores de outros homens, penas
que eu não me atrevo a relembrar.

Vento, o vento que me penteia
como se fosse mão materna!

Perde-se a verdade na noite:
não noite nem verdade!

Deitado em meio do caminho
deverão pisar-me para andar.

Passam por mim seus corações
bêbados de vinho e de sonhar.

Sou uma ponte imóvel entre
o coração e a eternidade.

Se eu morresse de repente
não deixaria de cantar!

Pablo Neruda, em Crepusculário.
Mais sobre o poeta.

Um comentário:

Marcia Carneiro disse...

Amei tudo aqui. Amei mto ter conhecido vcs. Volto a acreditar mais em amor. Teus poemas são cheios. As músicas maravilhosas... Brigadão!