segunda-feira, 12 de abril de 2010

A dignidade da arte


Tholl - Imagem e sonho

Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê.
Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o publico, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.
Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.

Eduardo Galeano

2 comentários:

Marcia Carneiro disse...

Texto lindo! Galeano adormece a alma da gente de um jeito... Beeijão pra vc !

Gustavo disse...

É, Galeano é um frescor, uma clareza humana. Nos pega sem pegar. Beijo Márcia!